terça-feira, 20 de julho de 2010

Araguaia: muito além da temporada


A paixão que o goiano tem pelo Araguaia é uma prova irrefutável de que um bem da natureza pode se converter em valor cultural distintivo de determinada sociedade. Agora é preciso salientar que essa relação precisa ir além do amor de temporada das férias de julho. O Araguaia demanda cuidados permanentes e preservá-lo equivale a cuidar da própria identidade do povo de Goiás.
Um exemplo desta atenção integral é a campanha desenvolvida pleo Diário da Manhã no sentido de preservar o Vale do Encantado. Não fosse a persistência de Batista Custódio, a região do Alto do Araguaia já teria sido literalmente engolida pela ganância do setor enérgico que enxerga naquele cânion espetacular não uma obra singular da natureza, mas apenas uma oportunidade de grandes negócios. O sistemático empenho do jornal em combater a mineração predatória ao longo do manancial, as conhecidas "dragas", é outra iniciativa que comprova a viabilidade política da luta preservacionista ser continuada e não apenas obra da ocasião festiva das férias, quando todos indistintamente se revelam apaixonados pelo Araguaia e prontos a dar contribuição conservacionista.
Acredito muito nas ações de educação ambiental como meio de mudar as condutas em relação à natureza. Prova de tal assertiva pode ser encontrada no turismo que se realiza hoje no Araguaia em relação ao que era desenvolvido há 20 anos. A evolução no sentido de praticar uma atividade sustentável é marcante no que se refere desde o emprego de materiais na construção dos acampamentos até a deposição dos rejeitos sólidos gerados pelos mesmos.
No entanto, ainda persistem atos predatórios e isso pode ser visível em Aragarças, um dos mais importantes balneários do grando rio de Goiás. Do mesmo modo que a educação ambiental é um forte elemento de convencimento de boas condutas e da mudança de mentalidade, é imprescindível a intervenção decisiva do poder público nas três esferas de governo, no sentido de fazer cumprir o seu papel de regulação. Ou seja, o ente estatal deve estar atento a orientar, mas também fiscalizar e punir as transgressões às normas ambientais, que são amplamente de conhecimento público.
Vejo também com especial necessidade a tarefa de planejar os modos de ocupação do Rio Araguaia, aí incluída a atividade turística. Neste sentido, sempre é feliz a conjugação de esforços dos segmentos estatal com o não-governamental. Nós, agentes do terceiro setor, temos uma função primordial no sentido de sugerir políticas e auxiliar na gestão das mesmas justamente por estarmos livres dos entraves burocráticos e termos uma capacidade de articulação com a sociedade que passa ao largo da política partidária ou dos interesses eleitorais.
A temporada do Araguaia está chegando ao fim. Depois que todos os turistas se despedirem das praias paradisíacas e do pôr-do-sol encantador, vão continuar latentes todos os danos ambientais que comprometem a sobrevivência do Araguaia. Um dos mais graves, a meu ver, mora no setor de saneamento básico. O lançamento in natura de esgoto doméstico e o acondicionamento inadequado de lixo são problemas que estão minando a saúde ambiental do Araguaia. Devem urgentemente ser tratados sob pena de, em pouco prazo, não haver mais qualidade das águas para se fazer a temporada de férias no rio de Goiás.

Jacqueline Vieira
(Artigo publicado no Diário da Manhã)

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